Apesar disso, e correndo o risco de estar colaborando com a chatice coletiva, vou aproveitar a data e o interesse das pessoas para falar de algumas mães dos animes. Algumas que todos gostariam de ter, outras nem tanto...
10) Sekai Saionji - School Days
Como saber se as inimiga tão usando o golpe da falsa gravidez para roubar o seu macho? Abrindo a barriga delas, é claro! Essa é apenas uma das valiosas lições que aprendemos ao final de School Days! Sekai alega estar gravida do bosta do Makoto, que está saindo com Kotonoha bem na sua cara e ainda pede para que ela aborte. Revoltadíssima, ela decepa a cabeça do desgraçado, mas Kotonoha resolve se vingar apunhalando e abrindo a barriga da bandida da Sekai. Depois, ainda diz: “sabia, você estava mentindo”. Heh. A questão que fica é: Estaria Sekai grávida ou não? Eu acredito que sim, mas acho que neste lance todo, estar ou não grávida é o que menos importa (risossss). Sekai é representa todas as mães que não conseguem levar a gravidez adiante. Um pouco trágico, acho.
09) Mother Shimogamo - Uechouten
Agora é a vez de uma mãe tanuki. E ela não tem um nome especifico. Na série ela é apenas “Mãe Shimogamo”. Essa característica ressalta que ela não é vista como mulher ou alguém que tenha uma vida própria, ela é a mãe, matriarca da família, é o seu papel naquele mundo. É somente quando se transforma na figura masculina de um príncipe é que ela pode ser mais que mãe e desfrutar de banalidades básicas da vida, coisas da qual gosta de fazer e sem qualquer relação com seus filhos. Nestes momentos, até sua postura muda, mesmo diante de seus filhos. Não por acaso, o que ela mais faz quando se transforma num príncipe é ir jogar, algo que é caracteristicamente relacionado a homens. Mãe Shimogamo me ganhou não apenas por ser uma mãe tão querida e personagem simpática, mas por também saber aproveitar dos prazeres da vida.
08) Rosa Ushiromiya - UMineke no Naku Koro ni
Rosa é mãe de Maria, aquela que fica chorando e fazendo “uuuuu, uuuuuu~”. Uma mãe terrível, diga-se de passagem. Não é que ela não ame a filha, mas Rosa tem atitudes desprezíveis para com ela, descontando na filha as suas frustrações. Rosa é a clássica mãe solteira em que o pai biológico desaparece abandonando a mulher após fazer a criança, que cresce tendo apenas um dos pais presente em sua vida. As mulheres de Umineko são fabulosas e Rosa não é diferente. Ela dá duro e enfrenta muitas dificuldades no dia-a-dia, tem resistência em abrir mão de sua vida de mulher sem reponsabilidades familiares e mesmo que sinta remorso por pensar assim, no fundo vê Maria como um fardo. Consequentemente, Maria é sempre reduzida a uma parcela insignificante em sua vida. Deixada sozinha diversas vezes, Maria cresce solitária e um tanto quanto problemática, enquanto Rosa continua com dificuldades de escutá-la e se irritando facilmente com seus choros, tomando atitudes violentas e erradas para conter a filha. Claro que como na maioria destes casos, Rosa também teve uma infância com distanciamento emotivo de seus pais. Mesmo assim, Rosa é apaixonante.
07) Ragyo Kiryuin - Kill la Kill
Minha mãe é uma alienigena!! Ou no mínimo, vendeu a alma para o diabo usando o sangue das filhas como sacrifício. Ragyo é sem dúvidas o retrato das piores mães que existem no mundo. Desmedidamente inescrupulosa e ambiciosa, até mesmo o ato “sagrado” da maternidade se torna uma moeda de troca para a mulher, que vê na filha a possibilidade de ampliar os negócios e alguém capaz de encabeçar a empresa da família. Como se já fosse pouco roubar a infância de sua filha Satsuki e moldar seu futuro, quando esta se rebela, ela não pensa duas vezes em deserdar a garota com dois chutes no bundão e abraçar Ryuuko; nova filha recém-descoberta, jogando na cara de Satsuki sua inferioridade frente às habilidades de Ryuuko. Não satisfeita, ainda jogou uma contra a outra. É, parece enredo de novela, e tirando as camadas de fantasia, também se parece com a nossa realidade em que os filhos nascem para atender as vontades e desejos dos pais. Comparando com muitas mães reais, as maldades de Ragyo se empalidecem. Numa das mais clássicas cenas da série , Ragyo toca sensualmente nas partes intimas da filhas, levando-a ao orgasmo, refletindo o poder e controle absoluto que nutria sobre Satsuki e suas emoções. Ou ao menos, que pensava ter sobre a garota.
06) Usagi Tsukino - Sailor Moon
A bela e serelepe marinheira da lua também é mãe, princesa, salvadora da humanidade e nas horas vagas uma adolescente cabeça oca e volátil. Observar as estripulias da garota, especialmente no anime (no mangá, tudo isto é um pouco mais contido, além de haver amadurecimento), é ter a certeza de que estamos em péssimas mãos. O ponto alto é quando sua filha vem do futuro e logicamente Usagi se vê incapaz de agir como uma mãe para Chibiusa, se tornando uma espécie de irmã mais velha e rival da própria filha pelo amor do namorado, que por um acaso será o pai da menina. Quando vemos sua pequena filha apontando uma arma para sua cabeça (tanto no anime quanto no mangá), sabemos que Sailor Moon está na vanguarda com uma obra que retrata tão bem como se tornaria o relacionamento entre pais e filhos num futuro nada distante. Em especial, as disputas entre mães e filhas.
05) Irisviel von Einzbern – Fate/Zero
Iris é um homunculus, ou seja, um ser humano criado artificialmente; mas isto não a impediu de se apaixonar por um homem, se casar com ele e dar a vida à pequena astuta Illyasviel von Einzbern. Iris foi a primeira criação artificial a alcançar tal feito, se tornando um ser humano em todos os sentidos. Nascida para ser um fantoche e protegida sob uma redoma de vidro teve que superar diversos conflitos internos e externos para conseguir experimentar o que de fato é ser humano. Sua compreensão para quaisquer atitudes do marido, o fato de ser emocionalmente madura, portar-se elegantemente, seu senso de auto-sacrifício, mas também ser bem humorada e denotar um ar de fragilidade infantil; tudo isto tornam Iris a esposa ideal para o pensamento paternalista clássico. Seu marido é um dos poucos contatos que teve incialmente com o mundo externo, sendo rigorosamente protegida, seu extremo amor/devoção e apego a um marido canalha e na maior parte do tempo ausente, demonstram a carência emocional da personagem. Ele é a sua maior e única referência até então, se tornando basicamente o chão em que pisa. Não por acaso, ela é conceitualmente um ser criado artificialmente; uma boneca feita para satisfazer primeiro a vontade de seu criador e depois de seu marido. Sua conceitualização serve como metáfora para sua abnegação.
Apesar de uma história triste, Iris soube tirar proveito disto tudo, como também se impor aos poucos, à medida que ia ganhando conhecimentos. Sua filha nasceu de seu desejo de que um filho pudesse representar a esperança num futuro menos trágico. Fica mais triste se você conhecer o destino de sua filha Illya em Fate/Stay Night.
04) Junko Kaname – Puella Magi Madoka Magica
Ela é mãe de um deus. Na verdade, deusa: Godoka. A família da Godoka é o arquétipo de família pós-moderna, embora este lar onde o pai é a figura passiva e fica em casa cuidando da casa e dos filhos, enquanto a mulher é uma empresária bem remunerada que chega sempre tarde e constantemente bêbada, seja uma característica criada pelo autor para evidenciar o caráter matriarcal de um mundo protegido por um deus feminino. Desse modo, Junko é muito mais do que o pilar de sustentação de uma casa, ela é a figura representativa desse mundo matriarcal. Mesmo com dificuldades de acordar cedo e bebendo além da conta, Junko ainda se mostra uma ótima mãe, mantendo uma relação intimista com a sua filha.
03) Koto – Kyousogiga
Koto é um ser que não deveria existir neste mundo, mas fora criada pelas mãos de um artista como um belo desenho em forma de coelho. Quase como se fosse uma metáfora, tal qual toda obra de arte nas mãos do seu escultor que com o seu adorno vai ganhando forma e vida própria, Koto também ganhou vida própria pelas mãos de seu criador. Nascida como um coelhinho preto, Koto se apaixona por seu mestre e sofre por não ser correspondida ou ao menos poder-lhe declarar este amor, até que cruza com uma Bodhisattva, que atende o seu desejo e a torna humana. Ela conquista o seu mestre e como nossos desejos evoluem e nunca cessam não se contenta em ser a mulher dele, mas logo também se torna mãe adotiva de um garotinho humano; de dois seres criados a partir de um desenho; e mãe biológica de uma garotinha impulsiva como ela. É uma família multifacetada, como se deve ser, com muitas divergências entre si, distanciamentos, reaproximações e equívocos da parte dos pais, mesmo eles tendo as melhores intenções.
A relação de Koto com seus filhos é interessante; eles a respeitam mais do que ao pai e quando esta se vê na obrigação de se distanciar dos seus filhos, devido a questões maiores, como a de garantir a sobrevivência deles e a do lar que criou [ao lado do marido] para eles, é notável o quanto os filhos sentem sua falta e esperam ansiosamente pelo seu retorno. Aqui temos o que é quase o reflexo da mãe moderna da nova geração, instaurando uma dicotomia com a mãe que Hana simboliza; característica conceitualizada no fato de que Koto está sempre ao lado do marido e o acompanhando em sua jornada de garantir a sustentação do lar criado para a família.
Em termos de relacionamentos com os filhos, gosto especialmente da sua relação com Yase; a sua filha nascida de um desenho, uma garota que quando furiosa, se transforma num dragão voraz entorpecido pela fúria. Yase sofre diversas discriminações e tem um enorme complexo de inferioridade, Koto parece ser a única que Yase consegue se mostrar em todos os ângulos sem sentir feia e inferior. É terno e bonito o carinho e compreensão com que Koto trata a filha, lhe repreendendo quando preciso, mas sem perder a ternura no modo de lidar com ela. Independente do quão diferente é dos outros irmãos, Yase se sente amada e querida na mesma proporção que os demais. Em um lar com mais de um filho, é um desafio para uma mãe fazer com que ambos se sintam plenamente queridos.
02) Hana – Wolf Children
Hana comeu o pão que o diabo amassou no ótimo Wolf Children Ame and Yuki. Se apaixonou loucamente por um simpático jovem, mas logo descobriu que o cidadão escondia dela um segredo que mudaria sua vida para sempre: o cara era um lobisomem! Okay, tudo bem, essas coisas acontecem e todo mundo tem aquele segredo que não conta nem para o espelho. Ela perdoa o homem-lobo e, bem, num relacionamento o sexo é bem vindo e ela não nega fogo, mas o lobo não usa preservativo e Hana fica emprenhada. Com dois lobinhos revirando a casa do avesso e a importante missão de esconder a identidade deles dos vizinhos, o lobo-pai que não é bobo nem nada parte dessa para uma melhor deixando Hana sozinha, sem emprego e com dois lobos travessos para cuidar e vigiar!
É, a vida de Hana como mãe não foi fácil, além de ter que abrir mãe de sua própria individualidade, teve que alternar drasticamente sua rotina e habitat em prol dos filhos. Na velhice, ainda foi abandonada pelos dois, afinal, dizem que se cria filhos para a vida e com a exceção de alguns, que preferem continuar sob as asas acolhedoras da mãe até o dia que estas lhe faltarem, chega o momento [cedo ou tarde] em que cada um necessita sair em sua própria jornada. Hana simboliza as milhares de mães que não se detém em dar as próprias vidas para o bem de seus filhos, fazendo incontáveis sacrifícios para que este cresça bem e saudável – mais do que isso, Hana representa uma geração de mulheres que se viam obrigadas a abrirem mão de suas individualidades por terem se tornado mães, deixando então de trabalhar e estudar ou mesmo sair para cuidar dos filhos enquanto o marido sustenta o lar; e na falta desse pilar central, se vendo desamparadas e passando por diversas dificuldades. O fato das crianças serem lobos é uma metáfora que substância a dificuldade de uma mãe, já que como lobos, Hana não podia contar com ninguém, nem sair para trabalhar fora e teve suas dificuldades dobradas. Em meio a isso, Yuki e Ame somos nós, filhos, que amamos nossas mães, mas também lhe impomos dor e abandono. É a troca natural que se tem numa relação, por mais amor que se tenha, sempre iremos nos magoar mutualmente.
Mãe de Misuzu Kamio. Tecnicamente, Haruko é na verdade tia biológica da garota, mas a cria desde que era um bebê, se tornando na prática a sua verdadeira mãe. Haruko é uma mãe louca, simpática, amorosa, mas também muitas vezes não se mostra uma boa mãe para Misuzu. Ela pode se mostrar muito inconsequente, por muitas vezes pouco madura e tende a fugir com facilidade de seus problemas ao invés de enfrenta-los – o fato de ela adorar se entregar à bebida depois do trabalho é uma característica de denota essa fraqueza interna, pois, é depois de cumprir seu expediente e então voltar a ser uma mãe; retornando para casa, que ela defronta com seus maiores conflitos. A bebida então caracteriza um aspecto da personagem, que é o de agir de modo pouco maduro e medo de enfrentar a realidade.
Acontece que Haruko ama Misuzu, mas acaba mantendo uma relação distante – na maior parte do tempo – com a garota. Então, como assim ela ganhou a primeira posição? Oras, é justamente o fato de ser tão errante e manter uma relação tridimensional com a filha que torna a ela e esta relação muito humana. É o que se vê com frequência aqui fora, em relação a pais e filhos. É o medo de se tocarem, de se conhecerem, e por mais que haja vontade de ambas as partes, não conseguem quebrar a enorme muralha estabelecida, mantendo então uma relação fria e distante. Haruko tem dificuldades de lidar com várias questões envolvendo Misuzu, chega um momento em que a saúde de sua filha piora a um estado critico e ela acredita então que não tem condições de continuar criando a garota, entregando-a ao pai, ao acreditar que isto seria o melhor para ela.
O clímax deste intenso relacionamento acontece quando, impossibilitada de andar, Misuzu – como que por um milagre – foge dos braços fortes do pai e sai andando fragilmente em direção à mãe, que se dá conta que o local ideal para ela é em seus braços. O ato de Misuzu sair andando com suas pernas fragilizadas e antes incapazes de se moverem, demonstra a dificuldade de se romper essa enorme muralha estabelecida entre um pai e um filho, e o ato de Haruko de sacrificar a relação com a filha por se considerar incapaz, reflete a unilateralidade numa relação, onde não sabemos exatamente o que o outro pensa e por uma escassez de diálogos acabamos tomando atitudes que consideramos corretas e para o bem daquele que se ama, mas que na verdade está infligindo mais dor. Haruko é espetacular por ser tão conflitiva e plenamente capaz de superar seus conflitos, fazendo a única coisa possível nestes momentos: encarar de frente as próprias emoções, afinal, ficou mais do que provado que a própria Haruko era sua maior critica e rival, se auto-sabotando constantemente. Assim como na vida, em que adoramos nos sabotar!